quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

45. no trânsito( 5 ou quando o Nemo perdeu a paciência... )


Olha, olha! Viste?


O quê?!


O gajo à nossa frente... deu uma esmola ao pedinte que lhe bateu à janela do carro


E que tem isso de extraordinário?


Não viste? O gajo deu-lhe uma nota! Uma nota de 20 Euros! Ganda maluco!


 Não vi, mas o que tem isso de mal? Ganda maluco porquê?!


Olha para o pedinte, ainda não acredita no que lhe aconteceu! Está ali de boca aberta, olha! Agora está a ir-se embora na gáspea


Então foi um bom donativo e o homem, com certeza, que não está habituado a esse tipo de esmolas


Pois... já deve ir lançado comprar uma ganda dose!


Dose de quê?!


Ora, de droga!


Abrenúncio! Vocês são realmente extraordinários! Como podes tu estar a fazer esse tipo de juízos de valor? Primeiro o homem da frente é um maluco por dar uma boa esmola, depois o pedinte tem de ser um drogado, não é? Conta-me lá, como te sentes? Fizeste duas avaliações, aí na hora, sem teres o mínimo conhecimento das pessoas em causa. Já reparaste que toda a tua conversa foi baseada em ideias pré concebidas sem qualquer fundamento? E além disso - que, na minha perspectiva, até já é bastante grave, que necessidade tens tu, têm vocês, de estarem sempre a julgar todos os que vos rodeiam? Custo a compreender como por um lado andam sempre tão preocupados com a liberdade individual e ao mesmo tempo não respeitam nenhuma privacidade e criticam atitudes que reflectem precisamente a liberdade individual de fazer algo diferente. Olha lá, por acaso sentiste-te prejudicado de alguma forma pela cena que presenciaste? O dinheiro que o homem lhe deu era teu?! Achas que ele devia pedir-te autorização para dar a esmola que lhe apetecesse ao pedinte?

Ó Nemo... não precisas de estar a gritar comigo...

AAahhh! Q'orror! Como é possível eu ter levantado a voz?! Que se passa comigo?! Estou a apanhar algumas das vossas pancadas?! Desculpa, não volta a acontecer...

Deixa lá. Se calhar tens razão e o pedinte até foi a correr comprar qualquer coisa para dar de comer aos filhos

Mas que mania! Porque tens de encontrar tu uma justificação para o que o pedinte vai fazer, ou não, com o dinheiro que lhe deram? Viste uma acção de caridade, como vocês lhe chamam, não precisas de começar a efabular, pura e simplesmente não é da tua conta. Alguém dá, porque quer dar, alguém recebe, porque precisa, só tens de constatar o facto e seguir a tua vida. A páginas tantas começas a pensar que o pedinte vai gastar o dinheiro para comprar uma faca para depois assaltar, ou quem sabe, matar alguém, não?

Vês?... Também tens ideias parvas!

F...-se! gostas muito de te fazer de parvo, não gostas? Sim, porque eu SEI que não estás a falar a sério e que não pensaste isso que disseste!

E que direito tens tu de invadir a minha privacidade e ler os meus pensamentos, hein?!

hmmm... aanmmhh... ok, desta vez tens razão, desculpa... mas é uma coisa que não posso evitar, «ouvir» os teus pensamentos, como já te expliquei. Não estou a invadir a tua privacidade... tu é que... «dizes» o que eu «oiço»

Ganda nóia, não é? Já imaginaste se nós tivessemos essa capacidade? Havia de ser bonito. Andava tudo à chapada...

Hmmm... que imagem tão triste. Por acaso nunca aprofundei como foi a nossa própria evolução até sermos todos telepatas. A evolução até chegar a este ponto deve ter sido complicada... Olha o gajo atrás de ti vai amandar-te uma valente buzinadela

Porquê?! 

Porque o sinal já abriu e...

FFFOOOOOOOMMM

o gajo à tua frente já se foi embora e tu ficaste aqui parado!

Porra!... já vai, já vai!








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