segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

10. Ai coitadinho!

Não sei como é com os outros terráqueos mas confesso que esta viagem até à cidade foi… assustadora! Por mais de uma dezena de vezes me tive de agarrar desesperadamente ao cinto de segurança, e por duas ou três vezes tive a sensação que alguns dos outros condutores queriam mandar as tais recomendações à família de um modo mais efusivo… até chegaram a sair do carro… (não percebi foi porque o Abrenúncio os evitou fazendo inversão de marcha numa avenida), mas acho que a malta gostou porque desataram todos a buzinar e confesso que a sinfonia foi… , como direi…, curiosa!

Resumindo, chegados à cidade, eu disfarçado com óculos escuros e um boné que mal me cabia na cabeça, caminhava ao lado do Abrenúncio olhando deliciado para as «montras» e divertindo-me com os pensamentos que ia apanhando aqui e ali.



- Ai coitadinho!  - Sobressaltei-me com o guincho daquela fêmea humana
É seu filho? 



- Hmm… não…



-Tadinho! Que mal encarado! É doente não é? Que infortúnio ter um filho assim, Deus do céu. Há gente que tem cá uma sina… E a cabeça, credo! Que cabeçudo…




- Pois… desculpe…


- Que teria você feito para merecer um filho assim? Isso não é contagioso pois não? Deus nos proteja (fazendo um sinal em cruz com as mãos – mais tarde soube chamar-se benzer-se!) Como é que tem coragem de sair à rua com essa criaturinha de Deus?



- Bem, minha senhora, ele não é meu…




- Papá! Vamos embora que a senhora é feia e estúpida!




-??!!




- Malcriadão! Ordinário! Nem sabe educar uma criança! Gente como você não merece ter filhos, parvalhão!


As mãos do Abrenúncio percorreram a minha cabeça enquanto nos afastávamos rapidamente, pensei que fosse uma carícia por o ter ajudado a sair daquela situação incómoda mas mais tarde vim a saber que me procurava as orelhas (que não tenho, né?)






Isto promete, eheh




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